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Abraços. Há braços…

Conforme nos chegamos às pessoas, naturalmente nos abraçamos. Somos assim, calorosos/as, amigos/as, irmãos/ãs, e há amigos/as que são mais chegados/as que irmãos/ãs. Muitos/as já havia tempo que não se viam e agora nesse encontro podem, com liberdade, se abraçar e matar a saudade. Chegam de vários lugares, sozinhos/as ou com famílias inteiras, o importante é que vieram. Estar juntos num grande encontro nos faz bem, nos completa, nos fortalece. Sejamos bem-vindos/as!Naturalmente podemos saber porque somos assim, fomos feitos/as à imagem e semelhança de Deus – Imago Dei. Nosso criador é ser que abraça, acolhe, se relaciona, gosta de estar junto. Reconhecemos e adoramos um Deus que abraça a humanidade; um Deus de perto, com seus braços capazes de abraçar a todos/as de uma só vez, mas ao mesmo tempo abraçar individualmente a cada um/a nas suas especificidades. E, assim fomos feitos/as.

Ah, como é bom saber que o abraço tem origem e fundamentação divina. Por meio do abraço lutador, um homem se encontrou com Deus no vau de Jaboque. No abraço instrutor, em cima do monte, o povo recebeu a boa instrução de condutas para o seu bem viver. No abraço pastoral, o salmista entendeu que a partir de então, nada lhe faltaria. Nos abraços proféticos, a nação percebeu que nada fica escondido e que é preciso voltar a ouvir a voz de comando celestial. No abraço acolhedor e abençoador, as crianças fazem parte do reino dos céus, aliás, é delas o reino de Deus. Nos abraços via correspondências, a Igreja se fortaleceu e se capacitou para a missão. No abraço final, a esperança e a paz foram anunciadas àqueles/as que permaneceram fiéis até o fim.

Juntos/as, unidos/as e abraçados/as na fraternidade e na irmandade, cantamos um hino ao Senhor:

“Nos céus, e no mar e na terra,
Nos bosques, nos prados em flor,
No fragoso alcantil,
Na amplitude celeste,
Um hino ressoa ao Senhor”
(HE – 120).

Nossos braços não são como os de Deus, são curtos e muitas vezes preguiçosos. Abraçamos somente aqueles/as que nos são chegados/as ou que nos oferecem algo, e por qualquer motivo se encolhem e não querem mais abraçar.

Há tantas pessoas carentes de um abraço, de um afago, mas a preguiça nos impede muitas vezes de irmos ao encontro delas. Preferimos ficar na nossa comodidade e no nosso conforto.
É preciso coragem para reconhecer nossa falha. Falhamos ao não compartilhar com outros/as o abraço recebido; falhamos quando não tomamos a iniciativa de promover abraços que sustentam a vida.

Quando o filho, virando as costas para o pai e indo viver uma vida esbanjadora, ao cair em si e tendo a consciência de seus erros, encontrou o abraço incondicional e perdoador de seu amoroso pai (Lucas 15.11-32). Na figura desse pai enxergamos Deus sempre disposto a nos abraçar oferecendo o seu perdão. Deus é um “esbanjador” de abraços e de amor.
No abraço e nos braços de Deus nos sentimos em paz e seguimos o nosso caminho abraçando e repartindo a paz que nos foi dada.

Recordando o abraço pastoral de Deus que providencia tudo o que é necessário para a nossa subsistência, e de nada sentimos falta, louvamos e engrandecemos a Deus pelas suas maravilhas. Depois de sermos abraçados/as e perdoados/as só nos resta agradecer a Deus por tudo. Nos momentos mais difíceis, Deus sempre entra com providência e sustento.

Somos brasileiros/as, povo caloroso, afetuoso, gostamos de abraçar e beijar, isso faz parte de nossa cultura e quando não podemos agir assim é porque tem alguma coisa errada. Afastar-se de abraçar não nos faz muito sentido, mas às vezes, é preciso.

A vida tem os seus ciclos e seu próprio tempo. O controlador de tudo isso é Deus, porém, cabe-nos a decisão de viver intensamente cada minuto e cada situação. Nas escolhas que nos cabe, devemos assumir as consequências, sejam elas boas ou ruins e isso dependerá se fizermos boas escolhas ou não. O que temos escolhido?

Estamos vivendo atualmente o tempo de afastar-se de abraçar, fugindo de uma contaminação virótica em massa. Decidimos nos recolher e não nos abraçarmos pelo tempo necessário. Mas, não estamos acostumados/as com isso, sofremos, nos angustiamos e ficamos ansiosos/as. É preciso lembrar que tudo tem o seu tempo determinado. O tempo de afastar-se de abraçar não será eterno, logo passará e poderemos novamente nos abraçar e nos alegrar. Devemos confiar no Senhor dos tempos, pois nada foge ao Seu controle.

Nossa esperança é de que o tempo em que teremos que viver afastados/as uns/umas dos/as outros/as seja o mais breve possível. Enquanto isso, aprendamos a valorizar a importância do abraço. Assim que pudermos, vamos abraçar bem forte os nossos/as amigos/as, os nossos/as irmãos/ãs, o nosso pai, a nossa mãe; dar um abraço até em nossos/as inimigos/as. Não sabemos por quanto tempo os/as teremos perto de nós. Não sabemos quantas oportunidades a mais teremos. Usemos, assim que possível, nossos braços para abraçar com carinho, afeto e amor.

A confiança e a segurança de um abraço me vêm à mente, neste poema de Dietrich Bonhoeffer.

“De bons poderes sinto-me cercado,
Bem protegido e, de fato, consolado;
Assim desejo eu passar os dias
E ter convosco um ano de alegrias.
De bons poderes vemo-nos cercados,
De pensamentos para o bem voltados.
Deus está presente noite e dia,
Assim é certa hoje sua alegria”.

Há braços para abraçar.

A missão é feita nos caminhos da vida, mas também no aconchego do lar, em épocas de recolhimento e de afastar-se do abraço, e precisa continuar. Deus nos deu inteligência e criatividade. Coloquemos em prática, aprendendo e descobrindo novas maneiras de comunicação e de compartilhamento do abraço divino que nos traz paz e esperança.
“Sejamos luz do mundo, como quer Jesus, espargindo sempre alegria a flux. Muitos têm a vida num sofrer sem par. Oh! Fazei a todos vossa luz brilhar” (HE – 398).

Que Deus nos abençoe e nos abrace sempre!

Adi Éber Pereira Borges, pastor na congregação em Jd. Primavera, Birigui (SP)

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