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A Salvação pela Fé (sermão 1)

“A Salvação pela Fé” trata-se do sermão número 1, de entre os sermões resgatados e compilados em livros de John Wesley. O texto base do sermão é Efésios 2:8. Esse sermão foi pregado na Universidade de Oxford em 11 de junho de 1738, dezoito dias depois da, divisora de águas, Experiência do Coração Aquecido. Para uma melhor compreensão do contexto desse sermão, aconselho que você leitor, recorra ao diário de John Wesley, especificamente a partir de janeiro de 1738, com o retorno de Wesley da América.

Wesley introduz o sermão estabelecendo o fundamento de que tudo o que o ser humano recebe do Senhor é por Graça. Até mesmo a justiça encontrada em nós trata-se de uma dádiva divina. Wesley segue fazendo menção indireta da doutrina do Pecado Original (vide sermão 44) levando em consideração a corrupção humana diante de um Deus Santo. “Na verdade todas essas obras são ímpias e pecaminosas, reclamando nova propiciação. Somente frutos corrompidos pendem de uma árvore corrupta. ” Wesley até enfatiza que diante da bênção maior (salvação) as demais bênçãos referem-se à “graça sobre graça! ” Logo, a “ graça é a fonte; a condição é a fé. “

A partir desse ponto, Wesley divide o sermão em três partes. A primeira discorrendo sobre o tipo de fé pela qual somos salvos, a segunda apresentando princípios sobre o tipo de salvação que se recebe pela fé e a terceira comentando alguns questionamentos frequentes sobre a doutrina da salvação pela fé.

Na primeira parte, o clérigo metodista elenca os tipos de fé, pelos quais não somos salvos: Não somos salvos pela fé dos pagãos que apesar de crer no “Ser e atributos de Deus”, no “estado futuro de recompensa ou punição e o caráter obrigatório da virtude moral”, encara Cristo apenas como um governante moral; não somos salvos pela fé dos demônios (uma fé que transcende a dos pagãos), mesmo crendo “não somente que há um Deus poderoso e sábio, gracioso no recompensar e justo no punir, mas também (…) que Jesus é o Filho de Deus, o Cristo, o Salvador do mundo”, todavia resume-se a uma fé puramente intelectual ou teórica, especulativa e racional;  por último, não somos salvos pela fé que os discípulos de Jesus preservavam antes da Sua morte, ressurreição e ascensão, pois não visava exatamente esse processo de sacrifício e consumação do plano da redenção. Wesley fundamenta que a fé pela qual somos salvos é a fé em Cristo, reconhecendo primordialmente “a necessidade e os méritos de sua morte e o poder de sua ressurreição”. A fé pela qual somos salvos reconhece a morte de Jesus “como o único meio suficiente de redimir o homem da morte eterna, e sua ressurreição como a restauração de todos nós à vida e imortalidade, tanto mais que ele ‘foi entregue por nossos pecados e ressurgiu para nossa justificação’”. É a fé que derrama sobre Cristo plena confiança de Seu sangue, os méritos de Sua vida, morte e ressurreição. É a fé pela qual descansamos na satisfação da justiça divina em Cristo, recebendo como resultado nova vida, ou seja, “vida divina que foi dada por nós e vive em nós; e, em consequência disto, união com ele, adesão à sua pessoa, como “nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção”, ou, numa palavra, — nossa Salvação. ”

Na segunda parte, o pregador do coração aquecido discorre sobre a espécie de salvação que recebemos a partir da fé explorada na primeira parte do sermão. Antes de tudo é uma salvação presente. “É alguma coisa atingível desde já, atualmente atingível na terra, pelos que são participantes dessa fé”. Somos salvos primordial e essencialmente do pecado, “do pecado original e atual, passado e presente, ‘da carne e do espírito’”. Somos salvos, também, da culpa do pecado, pois todos são culpados diante de Deus. Pela lei veio apenas o conhecimento do pecado, não sua libertação, contudo, Deus manifesta a justiça de Cristo sobre todo aquele que crê, convertendo em remissão dos pecados. Somos salvos do medo, salvos “do medo servil que escraviza; do medo, que causa tormento; do medo de punição; do medo da ira de Deus, — desse Deus que eles agora não mais contemplam como um Senhor severo, mas como um Pai indulgente”. Wesley corrobora que os que permanecem na fé “são também salvos não da possibilidade, mas do receio de decaírem da graça de Deus e de serem privados das grandes e preciosas promessas”. Em último lugar, somos salvos do poder do pecado e da culpa que é própria da condição pecaminosa. Sendo assim, Wesley exorta o leitor apontando que aquele que pela fé é nascido de Deus, não comete: 1- pecados habituais, “porque todo pecado habitual é pecado dominante” e o pecado não domina aquele que crê; 2- pecado voluntário, “porque, enquanto permanece na fé, sua vontade tenazmente se opõe a todo pecado, aborrecendo-o como se fora veneno mortal”; 3- desejo pecaminoso, “porque almeja constantemente a santa e perfeita vontade de Deus — e qualquer tendência para o desejo profano ele a sufoca desde o início, pela graça de Deus”; 4- pecado por enfermidade, seja pela prática de qualquer ação, palavra ou pensamento, “porque suas fraquezas não têm o concurso da vontade; e, sem tal concurso, não há, propriamente; pecado”. Concluindo a segunda parte, Wesley disserta que ser salvo é ser nascido de novo, justificado, liberto da culpa, do castigo (através da satisfação da justiça divina em Cristo aplicada à alma do ser humano) e domínio do pecado. O nascido de novo vai crescendo “de fé em fé, de graça em graça, até chegar, afinal, a ‘homem perfeito, segundo a medida da estatura da plenitude de Cristo’”.

Na terceira e última parte, Wesley responde algumas frequentes objeções contra a doutrina da salvação pela fé somente. Em primeiro lugar: Pregar a salvação pela fé somente é pregar contra a santidade e as boas obras? Não, a não ser que preguemos uma fé desvinculada da santidade e das boas obras. Essa fé invalida a lei ao invés de apontar o único meio pelo qual podemos cumpri-la. Entretanto, a fé que devemos pregar é a que produz um viver santo com todos as boas obras. “Os crentes em Cristo usam de todas as ordenanças que ele estabeleceu, fazem todas as ‘boas obras que ele antes havia preparado para que andassem nelas’, formam e exteriorizam todo o santo e celestial caráter e ainda a própria mente que havia em Cristo Jesus”. Em segundo lugar: A pregação dessa fé não leva os homens ao orgulho? Acidentalmente isso pode acontecer, sob a condição do pecador recusar concluir ser dom de Deus a fé, não uma conquista própria. Toda obra e justiça anterior a Cristo, nada merecem a não ser a condenação de Deus. A fé, pela qual cremos, a salvação, a qual recebemos, procedem da boa vontade e favor do Senhor, apenas. Em terceiro lugar: Pregar a salvação livre, só pela fé, não motiva o ser humano ao pecado? Isso pode e irá acontecer, “mas seu sangue será sobre sua cabeça”. O Senhor virá e não tardará para aqueles que clamam com ânsia que desejam também ver canceladas suas culpas mediante a fé que há em Jesus, buscando-O “por todos os meios”. Em quarto lugar: Se o homem não pode ser salvo depois de tudo o que fizer, isso lhe trará desespero. Glória a Deus por isso, pois “ninguém pode confiar nos méritos de Cristo, antes que se tenha negado inteiramente a si mesmo”. A justiça de Deus não vem àqueles que confiam na justiça própria. Enquanto muitos (influenciados pelo diabo) afirmam que essa doutrina é desoladora, declaramos que é a única tranquilizadora para os pecadores que se destroem e se perdem. Podemos sim, nos confortar nas misericórdias do Senhor. Em último lugar: Essa doutrina deve ser pregada a todos. De maneira nenhuma! “A doutrina segundo a qual ‘todo o que nele crê será salvo’ é, e deve ser, o fundamento de toda nossa pregação, isto é, deve ser pregada em primeiro lugar’”. Essa doutrina deve ser central em toda pregação metodista. Não deve ser negada nem aos pobres, nem aos ignorantes, nem aos jovens, nem aos que se recusam a ouvir.

John Wesley enfatiza que a doutrina da fé somente nunca foi mais oportuna do que no presente. Wesley braveja: “Nada, senão essa doutrina, pode fechar a boca àqueles que se ‘gloriam em seu opróbrio e abertamente negam o Senhor que os resgatou’” e outra vez: “Por esta razão o adversário se irrita todas às vezes que se prega ao mundo a ‘salvação pela fé’: por esta razão o adversário agitou toda a terra e o inferno, na ânsia de destruir os que primeiro pregaram a ‘justificação pela fé’. E pela mesma razão, conhecendo que só aquela fé poderia subverter os fundamentos de seu reino, reuniu todas a suas forças e empregou todas as suas artes da mentira e calúnia para demover Martinho Lutero do intento de reviver tal doutrina”.

Ao final do sermão, Wesley intitula o cristão nascido de novo por “criancinha” e de maneira deslumbrante apela:

“Embora estejas desamparado e sejas fraco como um recém-nascido, o homem forte não será capaz de permanecer em face de ti. Tu prevalecerás contra ele, e o subjugarás, e o dominarás, e o porás debaixo de teus pés. Sob o comando do grande Capitão de tua salvação, marcharás “conquistando e vencendo”, até que todos os teus inimigos sejam aniquilados e “a morte seja tragada na vitória”.

— Texto do seminarista Benaia Montevechi

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