“E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo” (Mt 4.23; Mt 9.35).
Poderíamos discorrer sobre estes temas separadamente e com grande abundância de materiais, porém, me arrisco a falar brevemente sobre os três temas juntos. Farei em separado num outro momento. Infelizmente são temas recorrentes, já deveríamos, enquanto Igreja, estar mais maduros/as e transformados/as quanto aos mesmos. O grande desafio neste texto é levar nosso povo a refletir, agir e reagir de maneira verdadeiramente cristã, quanto aos mesmos. Este caminho não pode ter retrocessos, mas avanços que deem significado ao viver cristão nesse mundo pós moderno.
Muitos cristãos e cristãs pensam que existem somente para ganhar almas para Cristo. Mesmo compreendendo a essência desta verdade, desejo também afirmar que a missão da Igreja deve ser integral. Evangelismo e compromisso social devem andar juntos, ou seja, desejamos alcançar todas as pessoas do mundo, porém de modo integral cada ser humano. Seria uma salvação integral de tudo que se pode ser salvo aqui e agora, sabendo que haverá vários aspectos da salvação, que veremos concretizados no futuro escatológico de Deus. Os assuntos que mencionamos afetam, tanto a Igreja como a sociedade e desafiam nosso senso de identidade e propósito. Precisamos aplicar nossa consciência cristã nestes temas e nos tornar, de certa maneira, militantes conscientes e solidários, pois é parte do nosso compromisso e responsabilidade social no mundo.
Até quando a mulher continuará sendo ignorada, maltratada, desrespeitada em sua dignidade, habilidades, igualdade e nos direitos básicos da vida; em muitos casos violentadas física e emocionalmente? É certo cristãos/ãs participarem direta e indiretamente destas ações destrutivas, em casa, na sociedade e quem sabe, nos templos?
Até quando vamos encontrar cristãos/ãs que defendem o escravagismo, a opressão de um/a sobre o/a outro/a, histórica e atualmente? Em especial, sobre a cor da pele. Até quando vamos ver nas igrejas locais, cristãos/ãs sendo racistas? Membros tendo preconceitos com mulher e pastora ou pastor/a negro/a? Até quando vamos negligenciar o pecado do racismo em nossos corações, lares, sociedade e templos?
Até quando vamos ver crianças sendo alvos de maltrato por parte de familiares, de governos e de pouca priorização por parte de muitas igrejas? Até quando vamos deixar o pior para as crianças em nossos templos, enquanto o melhor é oferecido para os adultos? Até quando vamos ver pais terceirizando a educação de seus filhos à sociedade, parentes e às escolas?
A Igreja Metodista possui documentos sobre estes três temas, que precisamos conhecer e praticar. Mesmo que você não os conheça, deve conhecer um pouco as Escrituras Sagradas, que são nossa regra de fé e prática. A Bíblia fundamenta nossa fé, revela quem somos, de onde viemos e por quê estamos aqui!
John Stott pergunta: “porque os/as cristãos/ãs devem se envolver?”. Ele responde que muitos não se envolvem, por fuga ou por acomodação. Acomodação, seria virar as costas para estas realidades, fingir que isto não existe, fazer de conta que tais realidades não são verdadeiras. Significa ser irresponsável, seria ser sal sem sabor, luz que não brilha, enfim, seria não ser cristão/ã, mas, apenas mais um/a na multidão de gente que não conhece o amor de Deus nem o Evangelho.
Muitos/as usam a comunhão da Igreja, os cultos, as reuniões, como fuga para não se envolver com estes temas e com ações que promovem e combatem intencionalmente tais práticas. Outros/as usam os púlpitos para pregações maravilhosas, em especial para servir às vontades daqueles/as que querem apenas receber o que gostam, não o que devem ou o que precisam receber e ouvir. Isto pode ser fuga também. Lamentável tal cenário!
Porém, existem os/as comprometidos/as e que se envolvem nestas questões; são os/as que lutam para derrotar tais pecados em suas próprias vidas, bem como na vida da igreja e da sociedade. Envolvimento, significa ter compaixão por estas vidas, sujar e ferir suas mãos por elas. Agem assim por entender que são cristãos/ãs genuínos/as, em cujo coração está o grande amor de Deus, que não pode ser contido em si mesmos.
Quero deixar com vocês uma referência bíblica que deve fundamentar nossas convicções e verdades. Além do texto inicial, que mostra um pouquinho do ministério de Jesus Cristo e suas ações junto ao povo, ensinando verdades do Reino, quebrando preconceitos culturais, se aproximando das pessoas para curar, libertar e restaurar a dignidade, bem como gerar salvação por meio do arrependimento. Ele agiu assim junto às mulheres, às crianças e em favor de todos/as, não fazendo acepção de cor de pele, posição social, etc.
Me refiro a Gênesis 1 e 2, que revela o projeto inicial de Deus, que deve ser honrado e mantido pelo seu povo. “Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão”. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” Gn 1.26-28).
Desde o início, Deus criou homem e mulher, não havia distinção entre um e outro, eram iguais beneficiários da imagem e semelhança de Deus, bem como com a mesma responsabilidade de dominar e cuidar da terra, a bênção da fecundação e multiplicação está sobre ambos, igualmente. Trago à memória esta verdade central da criação, para dizer que esta é nossa referência, nosso modelo, nosso projeto de vida e missão. Não devemos nos firmar e afirmar tendo por base os acontecimentos pós queda, pois a mesma promoveu distorções terríveis nas relações humanas, em especial relacionados à mulher, aos preconceitos raciais, ao trato com as crianças. Obviamente que há outros enfoques importantes a serem tratados por nós, mas atento a estes que menciono e que devemos nos envolver, para trazer de volta o projeto original de Deus para nossas relações.
Concluo afirmando que em Jesus Cristo, fomos feitos novas criaturas, segundo a imagem de nosso Senhor. Em Cristo é reafirmado Gêneses 1 e 2, e por meio dEle, somos levados de volta ao modelo inicial, criado e mantido por Deus. Não discorri muito sobre os temas propostos, apenas provoco cada um/a de nós, chamando todos/as à uma reflexão séria e de envolvimento nestas causas, por amor a estas vidas e por entender que somos fruto do amor de Deus por nós e cada um de nós devemos dar nossas vidas pelos nossos/as irmãos/ãs, influenciando a sociedade, fazendo diferente e diferença, quanto ao trato das mulheres, negros e crianças. Temos muitas ferramentas para nos envolvermos e vermos muitos frutos quanto à dignidade destas vidas envolvidas. Vamos lá?
Palavra do Bispo IR Nº 141