Estamos em tempo de quarentena e de outros cuidados pessoais e comunitários. O mundo globalizado já nos forçou a ser mais dinâmicos e mais criativos, pelo acesso que tínhamos a uma gama de informações e ideias. Contudo, o que nos dinamizava e nos nutria de conhecimento, também nos afastava um do/a outro/a, dentro de nossas próprias casas, isto quando tínhamos tempo para estarmos juntos ao mesmo tempo. Apesar de “juntos” num mesmo espaço físico, não estávamos juntos em comunhão, diálogos, conversas boas, “papos cabeças”, até discussões sadias, pois cada um com seu celular, alguns até se comunicando de um cômodo da casa com o outro via celular. Sem dizer de nossa espiritualidade doméstica, sendo vivida por poucos e quem sabe, de maneira superficial. Próximos/as, porém distantes!
A quarentena e os tempos difíceis não nos tira das mídias sociais, mas nos tirou das ruas, das programações sociais, de viagens, até do trabalho nas empresas fomos tirados. Esta realidade pode mudar nossos relacionamentos familiares, para melhor ou pior. Dependerá de como vamos responder a esta nova e temporária experiência.
Que tal decidirmos aprender o máximo com esta situação? Que tal transformarmos estes tempos difíceis em tempo de oportunidades?
Por exemplo: O “eu” precisa voltar a ser “nós”; precisamos pensar melhor sobre nossa família, nossa casa, pois afinal de contas, nas horas difíceis, quem de fato estará presente em nossas vidas? O egoísmo vinha sendo alimentado pelas mídias, mais do que imaginamos, cada um estava construindo e fortalecendo o seu próprio mundinho, deixando de fora todos/as que não se enquadravam em seus conceitos ou nos conceitos e preceitos forjados pela sociedade em seu eu, sua consciência falha, suas vontades próprias, envolvendo também suas emoções.
Aprendemos a construir muros e destruir pontes em nossos relacionamentos, dentro e fora de casa. Esta é uma hora importante de reconstruções em nossas vidas.
Ergamos nossos olhos, olhemos ao nosso redor. Hoje, por causa da mídia globalizada, conseguimos de fato passar nossos olhos e visualizar o mundo, as sociedades, as famílias, as nações, os povos. De modo geral, estão cheios de feridas na alma, adoecidas, angustiadas em suas emoções, empobrecidas em suas economias, iludidas com falsas promessas, rejeitadas pelos seus familiares e sociedade. Quanta gente discriminada por sua cor, posição social etc. Estão sendo deixadas de fora dos que julgam estar bem, vem se tornando apenas mais um/a cenário no olhar doentio de quem pensa que está no controle de si mesmo ou das situações da vida humana.
O Senhor Jesus veio inaugurar um novo estilo de vida, uma nova sociedade, com novos valores, novos hábitos, novas práticas, novo modo de viver em comunhão, em amor, paz, e solidariedade. Por isso, Ele iniciou seu ministério formando um pequeno grupo de discipulado, para se relacionar, conhecer, compreender, curar, transformar, aperfeiçoar, capacitar, ensinar cada um deles a reproduzir a dinâmica, princípios de vida cristã para as próximas gerações.
Jesus Cristo não somente olhava a sociedade, mas caminhava com ela, a fim de promover o seu reinado, tanto sobre as pessoas, como sobre seus males e dores. Os seus seguidores e seguidoras deveriam seguir cada passo, aprender a servir tanto a Deus, como às pessoas, também promovendo o reino, não deles próprios, mas do Senhor Jesus e também curar e libertar, não por si mesmos, mas pelo poder e amor de Jesus. Em Atos 2.40-47, vemos um exemplo de comunidade que nasceu, experimentando estes novos valores e princípios de vida, também num tempo difícil e complexo.
Com esta comunidade doméstica, podemos aprender e reaprender vários valores importantes, que precisamos desenvolver em nossas igrejas lares, em nossas igrejas templos, quando voltarmos à normalidade das atividades cúlticas.
A quebra de princípios bíblicos em nossos relacionamentos e ensinamentos, dentro e fora da igreja, tem gerado uma igreja superficial em suas relações e comunhão, que consequentemente terá um testemunho fraco e ineficiente nesta doentia sociedade humana. Apesar de ser assim, não deixou de ser alvo do grande amor de Deus.
Aprendemos que uma igreja sadia acolhe e batiza pessoas pelo caminho do arrependimento e conversão genuína. Não há outro caminho para se tornar membro do Corpo de Cristo e de Sua Igreja. Qualquer outra forma que criarmos, será errada e equivocada na existência da Igreja. Uma igreja sem crentes verdadeiramente convertidos/as é uma tragédia para a missão da Igreja no mundo. Refiro-me à Igreja (corpo vivo de Cristo), não de seu aspecto institucional. Ser membro do Corpo de Cristo vai muito além do eclesiástico e denominacional.
Aprendemos que o ensino apostólico na vida da Igreja se torna vital para seu crescimento espiritual e missionário. A perversão do ensino enfraquece a igreja e tira sua força e vigor espiritual, como lhe deixa sem fundamentos capazes de sustentá-la na hora da tribulação. No meio cristão, em muitos lugares, há uma desconstrução da fé simples e bíblica, porém sem inserir nada melhor no coração das pessoas, até de obreiros/as.
Aprendemos que uma vez no caminho da fé, nossa unidade não será uma opção, mas nosso dever. O grande desafio da Igreja hoje é permanecer na essência da fé e da doutrina cristã. Observo isto, porque nesta essência não pode haver diferença, divergência, nem contradições. Não há como não divergir no não essencial, e quando isto acontece, prevalece o amor, a tolerância, o respeito à maneira de como o/a outro/a vive sua fé e serve a Deus, no não essencial. Contudo, na essência do Evangelho, não podemos divergir, pensar diferente, caso contrário, promoveremos a divisão no Corpo. Dividir a Igreja com quebra de princípios essenciais, fragiliza o Corpo, enfraquece seu testemunho no mundo e desonra a Deus. E mais, comunicamos falsidade religiosa, simulação da fé, falsa aparência cristã, vergonha e escândalo para com os de fora. O que isso gera? Antipatia à Igreja, e lamentavelmente isto acontece em nossos dias.
Eis a Palavra de Deus para nós, amados e amadas. São valores e princípios para serem vividos por todos/as nós na igreja que o Senhor nos plantou e nos abençoou em Cristo, para frutificarmos e sermos uma bênção na vida uns dos outros na Igreja, bem como ser uma bênção nas mãos de Deus para abençoarmos o mundo. Os tempos difíceis não podem mudar os princípios da vida cristã, pelo contrário, são nas dificuldades que o/a cristão/ã cresce, amadurece e frutifica na missão. Não renuncie isso, hoje e nunca!
////// Palavra do Bispo Adonias Lago (Informativo Regional nº 139 – Maio/Junho)