Conforme informações no site do CVV (Centro de Valorização da Vida) a cada 45 minutos um brasileiro tira a própria vida. Esse número já deveria ser suficiente para estimular as pessoas a se mobilizarem pela prevenção dessas mortes precoces, mas apesar dos avanços, os tabus, preconceitos e vergonhas ainda são adversários nessa luta.
Nesse mesmo site encontramos um movimento chamado Setembro Amarelo, para chamar a atenção da população para esse problema. O suicídio é um assunto complexo, pois ninguém se mata por um único motivo, mas a prevenção é possível e algumas ações podem ser feitas por todas as pessoas. Permitir que as pessoas desabafem e falem sobre seus sentimentos sem receber críticas é um meio de evitar que se pense na morte como solução para as dores. A morte em si já é um tabu. Morte por suicídio costuma ser ainda mais, pois toca em questões de escolhas, crenças e barreiras sociais.
Tem sido extremamente difícil lidar com esse tema dentro do espaço de nossas igrejas. Salvo algumas exceções, não nos abrimos para discutir um assunto, que embora esteja próximo a nós (pois todos nós conhecemos alguém que intentou contra sua vida); não conseguimos pensar ações que nos mobilize.
Alguns conhecidos nossos, que gostamos de pinçar em alguma situação vivida e vencida por eles, nos demonstram também as suas fragilidades: Elias se escondendo na caverna, Jó revoltado com a Vida, Salmista entrando na onda da comparação e se frustrando, Ana angustiada de alma, Salomão se perguntando se a vida vale a pena ser vivida; um Tomé que mergulha em dúvidas do que viu e viveu, Maria Madalena desacreditada, um João Marcos que “chuta o balde”, O Pedro de “pavio curto”, e o nosso querido Mestre Jesus que demonstra em vários encontros com outro ser humano os sentimentos de tristeza, raiva, desesperança…
Encontramos humanidade na Bíblia, quando ela retrata as vulnerabilidades das pessoas sem omitir o encontro com o divino, o sagrado, o que transcende.
Seria bom não desprezar as nossas fragilidades. Considerar que todos nós, sem exceção e não importando a sua linha teológica, vamos eventualmente ou de uma forma permanente, vivenciar momentos de profunda angústia, como se toda a Vida se resumisse naquela situação vivida.
É bom recordarmos que não estamos sós! A partir dessa premissa, trazer a memória que “Aquele que nem o seu próprio Filho poupou”, sabe o que é o sofrimento e também intercede por cada um de nós.
Considerar nossas fragilidades, nos leva a um caminho da empatia (se colocar no lugar do outro), entendendo que poderia ser eu e você naquela situação. Olhar as pessoas ao nosso redor nos olhos, num mesmo nível, sem se colocar numa posição de julgamento. Pode ser que aquela pessoa precise apenas de um acolhimento. Alguém que a ouça falar. Desabafar a dor que corrói a alma. Verbalizar em palavras e gestos, uma dor que não tem sentido.
No Setembro Amarelo estamos nos sensibilizando com o desafio de não amarelar em frente aos muitos desafios que a vida nos impõe! Lembrando que nesse mês comemoramos o início da primavera, um tempo que nos remete a natureza em sua exuberância de flores, cheiros e sentidos aguçados.
Que o Deus da esperança traga os seus recursos naturais e sobrenaturais para que a morte não seja a solução para as dores da vida.
Marta Lago – @projetocuidar5re
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