Todos/as nós conhecemos como surgiu o Dia Internacional da Mulher, repetimos essa história para que não fique esquecida e tenho certeza, que ouviremos e devemos lembrar este ano novamente.
Ao ser convidada a escrever algo sobre o Dia da Mulher, me veio à mente poetizar uma mulher muito ocupada pois, todos os dias, milhões de mulheres no mundo enfrentam a vida com uma energia quase que sobrenatural. Muitas, ao amanhecer, acordam as/os filhas/os para irem à escola, presencial ou remota (em casa), cuidam da casa e compram e providenciam tudo o que é necessário para prover sua família.
Eficientes e dinâmicas, é muito possível que trabalhem o dia todo nas mais diversas áreas e que se dediquem, além disso, algumas se envolvem em tarefas comunitárias.
Ao regressar, esperam por ela, em casa, as/os filhas/os que ainda serão acompanhadas/os nas tarefas de casa e ela precisa ter um tempinho para o companheiro ou para si…
“Ela abre sua boca com sabedoria, e o ensino da benevolência está em sua língua” (Pv 31.26).
Solteiras, esposas, mães, donas de casa, funcionárias ou empresárias, heroínas anônimas de nossa história, parecem até esquecer o cansaço, porque afinal, estão muito ocupadas para isso.
Ouvi certa vez essa frase: “Toda mulher já é toda uma ocupação”
Nós, mulheres, carregamos filhas/os, paixões, dores, desenganos amorosos, sacolas de supermercado, preocupações e medos…. Temos forças que surpreendem muitos, mesmo que sempre tenham nos chamado de sexo frágil. É que os músculos femininos, mais que no corpo, estão na alma e no coração.
Nesta década a mulher foi empoderada, mas, o poder das mulheres reside em uma misteriosa força interior, uma intuição prática, inteligência emocional, desejo irrenunciável de alcançar seus sonhos, compromisso incondicional para defender a vida.
Mesmo que seja difícil definir, nós sabemos que essa força que nos motiva à vida, é ilimitada, surpreendente. É o potencial feminino.
É um poder único, original, transmitido de geração a geração, o poder dado pelo Criador à criatura mulher.
“Ela está vestida com força e dignidade, e ela ri, sem medo do futuro” (Pv 31.25).
Gosto muito de estudar e falar das mulheres da Bíblia, elas estão em várias situações e em todas, vemos força, coragem e determinação.
As mulheres exerceram um importante papel no ministério de Jesus. Num tempo em que o machismo era predominante, um homem que conversava publicamente com mulheres era algo quase inaceitável. A própria religião as separava tendo-as por imundas em certas situações (Levítico 15.25 e 33) e a separava na hora do culto. Mas, Jesus rompeu estas barreiras do preconceito e cuidou também de mulheres que o procuravam para buscar a Deus.
O evangelista Lucas contribui para esta mudança de paradigma ao nominar mulheres que publicamente assumiram seu compromisso de seguir ao Mestre Jesus. Estas mulheres ajudavam o Senhor, com seus bens oferecendo seus favores como discípulas de Cristo (Lucas 8.3).
Mas há uma história bíblica que retrata o cotidiano de muitas mulheres que encontramos no caminho. O Evangelho de João 4.1-30 nos conta a história de uma mulher, uma samaritana, que veio ao poço buscar água por volta do meio dia. Aproxima-se um homem e lhe pede água para beber, até então ela não sabia quem ele era. Neste diálogo, podemos destacar diversas violências sofridas pela mulher samaritana, como o preconceito social que a exclui do horário normal de visitação ao poço, o olhar violento dos discípulos para a ação de Jesus ao conversar com ela, sendo uma estrangeira, nos remete a muitas situações em que mulheres vivem ainda hoje.
Neste relato do evangelista João, o homem Jesus, mostra para aquela mulher que existe um poço artesiano interior, jorrando vida para sempre… se ela soubesse com quem estava falando, se conhecesse a generosidade de Deus, pediria água e ele lhe daria a água pura, a água da vida.
Existem, nos caminhos da missão, muitas mulheres sedentas da graça, mulheres que, como a samaritana, podemos marcar um encontro e levá-las a conhecer um lugar, onde a violência é superada pelo encontro com a Água da Vida, que alimenta as pessoas e as transforma em fontes dessa mesma água.
“Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede – nunca!” (Jo 4.14).
Ao trazermos à lembrança o que motivou a criar-se um Dia Internacional da Mulher, vamos também refletir e ter ações junto à comunidade sobre o que podemos fazer para ir ao encontro das pessoas vítimas de diversas violências e, assim como Jesus fez com a mulher samaritana, nós possamos também, acolher e amar as mulheres excluídas, desamparadas que estão à margem da sociedade.
Somos convocadas/os como discípulas/os nos caminhos da missão a anunciar as Boas Notícias da graça, para isso, precisamos romper com o nosso preconceito, quebrar os paradigmas e marcar um encontro no poço. Ele, o que nos convida a beber dos mananciais da água viva, tem o poder de mudar a nossa história, e a história de muitas mulheres.
“Senhor, dê-me dessa água…” (Jo 4.15a).
Parabéns às mulheres anunciadoras da graça!
Márcia Célia Pereira, Pastoral Escolar e Universitária do IEP e IM Betânia, Piracicaba (SP)