Vivemos a era do descartável. Com o propósito de facilitar nossa vida e, em alguns casos, até proteger nossa saúde, os descartáveis chegaram para ficar. Não faz muito tempo que reaproveitávamos quase tudo. Hoje, nos acostumamos tanto com os descartáveis que muitos/as não saberiam viver sem estas facilidades modernas. Quebrou, compra outra. Rasgou, joga fora. Um pouco ultrapassado, certamente um de última geração tomará o seu lugar. O mundo moderno, tão acostumado com o descartável, tem também levado as pessoas a descartarem outras pessoas. A solidão, a ansiedade, a depressão e até o suicídio, temas tão frequentes em nosso meio, muitas vezes têm suas raízes no descarte de pessoas. E a igreja? Como tem lidado com o descarte de pessoas? São muitos os casos de pessoas que passaram pela igreja e depois de um deslize ou uma fraquejada na fé, foram descartados e, muitas vezes, com uma justificativa. Costumamos até ouvir: “Esse aí não tem jeito mesmo!”
Desistir das pessoas não deve ser o papel da Igreja do Senhor. Acreditamos nas pessoas porque Cristo amou também os fracos ao ponto de morrer por eles e elas. A Igreja, sendo agente de Deus na terra, deve investir em todos e todas a exemplo de Cristo. Mas, como ser eficiente nessa missão? Que estratégia usar para restaurar os caídos sem descartá-los? A resposta é: discipulado!
Quando o apóstolo Paulo está em Trôade (At 20.7-12), durante uma longa pregação, um rapaz chamando Êutico dorme e cai da janela do terceiro andar de onde estavam. O médico Lucas, que escreveu Atos dá o diagnóstico: “foi levantado morto” (v. 9). Foi quando Paulo, que não descartava ninguém, interrompe um culto de domingo e com Santa Ceia, desce, inclina-se sobre o rapaz e o abraça. Enquanto o médico diz: “está morto!”, Paulo diz: “a vida nele está!” Paulo acredita até mesmo nos que caem. Não fica apenas nas palavras, mas ele se envolve com o caído. Ele o abraça. Abraço é toque, é envolvimento. Exatamente como deve ser a Igreja comprometida com o discipulado de Cristo. Não fica apenas nas palavras, mas se envolve com os que caem do terceiro andar da vida. Era o primeiro dia da semana, e estavam reunidos com o propósito de partir o pão. Mas para Paulo, a liturgia fica em segundo lugar quando o assunto é resgatar quem caiu.
Imaginem o que as pessoas estavam dizendo do pobre Êutico: “Ele vive caindo mesmo”, “Não vale a pena interromper um culto para socorrer alguém que vive na janela”, ou “Ele está sempre com um pé na igreja e o outro no mundo.”
Aquele jovem era um improvável, mas Paulo desce, o levanta e volta para partir o pão. Paulo o chama para a comunhão, dando exemplo de que no reino de Deus ninguém é descartável. O discipulado leva a Igreja a investir nos mais fracos dando-lhes oportunidade de estar em plena comunhão com Jesus.
A Igreja envolvida com a restauração de pessoas através do discipulado pode ter que interromper o que sempre fez e descer do orgulho litúrgico. A prioridade agora são as pessoas. O discipulado leva a Igreja a abraçar os caídos, ajudando-os a levantar, para ter comunhão com Cristo de novo.
Nosso papel é investir e acreditar sempre nas pessoas, através do discipulado. Quando não investimos no cônjuge, filhos e filhas, pais e mães, amigos e amigas, e até em um desconhecido, podemos estar descartando um/a potencial servo/a de Cristo. Discipular é investir nos improváveis, crendo que Deus fará deles pessoas notáveis.
Eliéser de Oliveira Alves, pastor na IM Central em Araçatuba (SP)
Publicado no IR 132