Em 2011, foi lançada a Carta Pastoral “Para que todos sejam um – a perspectiva Metodista para a unidade cristã”. Ela traz orientações muito importantes para a nossa prática do tema. Será importante reler essa pastoral à luz do tema de 2020 – Discípulas e discípulos nos caminhos da missão vivem em unidade.
Considerando a unidade a partir da perspectiva bíblica, mas também levando em conta a cultura evangélica brasileira na qual nos forjamos, é preciso destacar que unidade não quer dizer uniformidade.
É óbvio que existem alguns elementos doutrinários, eclesiásticos e pastorais que regem nossa fé cristã. Relembremos alguns deles: Sermões de John Wesley, os Vinte e Cinco Artigos de Religião, as Notas do Novo Testamento e outros documentos como as cartas pastorais emitidas pelo Colégio Episcopal. Caso discordemos desses elementos basilares, devemos repensar se somos metodistas mesmo. Porque se vivermos criando discórdias e movimentos que dividem a unidade interna da Igreja, trabalharemos contra o testemunho que a Igreja deve dar ao mundo, como vimos à luz de João 17.
Para desenvolvermos a unidade cristã que aqui afirmamos, devemos ter em conta as seguintes práticas:
- Centralizar nos princípios imutáveis da Palavra de Deus qualquer relacionamento de unidade.
- Trabalhar a dinâmica do respeito mútuo, independentemente de posição ou cargo que se ocupe na estrutura da Igreja.
- Obedecer às decisões emanadas dos Concílios Gerais, Regionais, Distritais e Locais.
- Criar um ambiente de fraternidade e respeito contribuindo para a unidade interna.
- Criar ambientes que favoreçam a unidade da Igreja Metodista, priorizando relacionamentos saudáveis na família, na igreja, no trabalho e em sociedade.
- Valorizar o que de melhor possa haver no pensar teológico cristão de quem pensa de modo diferente.
John Wesley sentiu na pele o desafio da unidade durante seu ministério. Diante das controvérsias e dificuldades, ele lutou ardentemente para que os membros da Igreja da Inglaterra permanecessem unidos. Não era o seu desejo a fundação de um novo movimento. Para isso, em particular, ele ressaltava o papel do presbítero (ainda não havia a ordenação de mulheres). Duncan Reily [2010, 1993], explica essa preocupação nos seguintes termos: “para Wesley, o ministério do presbítero é uma ordem essencial para a vida da Igreja, cuja vocação seria assegurar a unidade, a sucessão apostólica, a boa pregação da Palavra e a correta ministração dos sacramentos”. A pastora ou pastor, na igreja local, deve considerar seu lugar como fomentador da unidade e seu ministério deve assegurar o desenvolvimento do sacerdócio de todos os crentes, em comunidade, no serviço às pessoas, sem rupturas no corpo”. Contextualizando a experiência de Wesley, nosso desafio como cristãs e cristãos metodistas, especialmente presbíteras e presbíteros, é comprometer-nos com a renovação da Igreja a que servimos e da qual somos membros, sem causar divisões.
Do mesmo modo, há em nossa teologia e prática a percepção de que não somos uma Igreja isolada, mas um ramo da videira. Neste sentido, temos o chamado a contribuir com a unidade cristã com as comunidades e órgãos que professam a fé cristã mas não são de tradição wesleyana. Para fazê-lo de modo sadio e dinâmico, necessitamos conhecer bem nossas doutrinas, eclesiologia e pastoral.
Não podemos permitir que a unidade cristã, tão cara e preciosa ao nosso Deus, seja instrumentalizada para fins distintos da ordenança bíblica, que é “testemunhar para que o mundo creia”. A Igreja Metodista não pode se envolver com organizações ou situações de caráter duvidoso, que possam causar cisões ou desviar-nos do propósito divino.
Ao participar de atividades com outras pessoas ou grupos cristãos, devemos, para preservar a unidade cristã, seguir algumas orientações:
- Respeitar as individualidades e dar um bom testemunho da Palavra.
- Nos programas de culto em conjunto, cuidar para que elementos próprios (particulares) de cada denominação não sejam incluídos na programação.
- Focar em coisas que favoreçam a unidade, pontos em comum entre as igrejas.
- Observar as liturgias quando o culto ocorrer em nossos espaços, verificando se elas refletem o que pensamos como Igreja Cristã.
- Orientar os irmãs e irmãos para se conduzirem de modo salutar dando um bom testemunho cristão em qualquer envolvimento para um bom exercício de unidade.
- Participar em programações que fortaleçam a unidade do povo de Deus.
Além disso, oportunidades se abrem para estarmos na sociedade, em eventos e atividades promovidos por organizações laicas. A participação é legítima, pois somos sal da terra e luz do mundo, e não vivemos isoladamente. Cabe lembrar que movimentos de cunho político-partidário devem ser evitados, pois não alimentam a unidade cristã e podem nos colocar em situações até mesmo contrárias à Palavra de Deus. Entretanto quando são atividades da vida da cidade, do bairro ou da comunidade – como aniversários, festas e celebrações cívicas – participamos e damos nossa contribuição pregando a Palavra de Deus.
Referência: IGREJA METODISTA (São Paulo). Carta Pastoral 2020: Discípulas e Discípulos nos caminhos da missão vivem em unidade. 2020. Colégio Episcopal. Disponível em: http://www.metodista.org.br/content/interfaces/cms/userfiles/files/downloads/Carta/carta-pastoral-vivem-em-unidade-466.pdf. Acesso em: 03 mar. 2020.