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No que cremos: o livre [e gratuito] arbítrio

Tratando a respeito das crenças doutrinárias metodistas, é comum o entendimento de que nós, protestantes de tradição wesleyana, cremos no livre arbítrio de todas as pessoas. Isso incorre pois, se tratando da ótica soteriológica (matéria que estuda o tema da “salvação”), nós somos de linha arminiana – teologia inspirada nas reflexões do teólogo holandês Jacob Armínio. Dois principais pontos da teologia arminiana suscitam o debate em torno do livre arbítrio que são eles: a “eleição condicional” e a “possibilidade de apostasia”. Ou seja, para Armínio (e também para Wesley) a pessoa pode ser salva ou não, tendo por fator preponderante sua fé, já que a graça é dispersada a todas as pessoas e estas, no caminho para a salvação, podem cair da graça ao perderem a fé. Assim, tanto para Armínio, quanto para Wesley, como para nós metodistas, há o livre arbítrio sobre homens e mulheres.

Contudo o tema não é tão simples assim, uma má compreensão do livre arbítrio pode produzir o errôneo pensamento de que cremos que a salvação seja por obras e não por graça, indicando méritos humanos na obra salvífica de Deus. A bem da verdade é que tanto Wesley como Armínio criam na graça como favor imerecido de Deus à nós e não contraporão a ela. Nas doutrinas metodistas, mais especificamente nos 25 artigos de religião, podemos ver claramente nos artigos VII e VIII que o “pecado original” deixou a humanidade muito longe de sua retidão e a única forma dos homens realizarem boas obras passou a ser através da graça de Deus dada por Cristo Jesus. Aqui entra o ponto crucial para a nossa compreensão sobre livre arbítrio, a humanidade de fato perdeu sua livre escolha de bem ou mal quando do pecado original, mas a graça de Deus faz ressurgir isto a nós. Wesley, escrevendo sobre o livre arbítrio diz em algumas notas de revisão doutrinárias que “tanto o sr. Fletcher como o sr. Wesley negam absolutamente o livre-arbítrio natural. Nós ambos afirmamos firmemente que a vontade do homem é, por natureza, livre apenas para o mal, contudo, ambos cremos que todo o homem tem um certo grau de livre-arbítrio que lhe foi restaurado pela graça. ” Assim, o livre arbítrio que cremos ter não é o dado de natureza, mas o derramado de graça. A expiação de Jesus não apenas é sobre toda a humanidade, como proporciona a toda humanidade a graça do perdão. É assim que a obra divina da salvação nos alcança: com gratuidade e livre escolha. Portanto, o livre arbítrio é um dom gratuito de Deus a nós. Assim é que cremos.

— Texto do seminarista Olivio Sanches

CAMPBELL, Ted A. “O essencial da doutrina metodista”. Pags. 49-54

Os 25 artigos de religião que compõe nossa base doutrinária (artigos 7 e 8).

BURTNER, CHILES. “Coletânea da teologia de João Wesley”. 2° edição, Rio de Janeiro 1995: Igreja Metodista, Colégio Episcopal.

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